A dúvida nem sempre chega como um vendaval. Às vezes, ela vem como uma brisa incômoda. Um silêncio estranho. Um vazio que vai crescendo por dentro até a fé antiga não caber mais.
Durante muito tempo, achei que fé e dúvida eram opostos. Que se eu estivesse duvidando, era porque minha fé estava fraca. Mas com o tempo — e com a ajuda de alguns pensadores corajosos — fui entendendo que a dúvida não destrói a fé. Ela a purifica.
Paul Tillich dizia que a dúvida não é o oposto da fé, mas um elemento da própria fé. E isso muda tudo. Porque, ao invés de fugir da dúvida, somos convidados a atravessá-la. A confiar não apesar dela, mas junto com ela.
Fé, nesse sentido, não é adesão a doutrinas prontas. Não é crença cega. É coragem.
Coragem de continuar buscando, mesmo quando as respostas desaparecem.
Coragem de permanecer em pé, mesmo quando o chão das certezas afunda.
Kierkegaard, outro pensador que marcou minha caminhada, falava do “salto da fé” — um salto sem garantias. Ele dizia que a verdadeira fé começa onde a razão não pode mais alcançar. Quando não há mais apoio externo. Quando o que resta é apenas o risco de confiar.
Talvez seja por isso que tanta gente abandona a fé quando começa a duvidar. Porque fomos ensinados a ver a dúvida como um sinal de fraqueza, quando, na verdade, ela pode ser um convite à maturidade espiritual.
A fé que resiste à dúvida talvez não seja fé, mas conformismo.
Mas a fé que atravessa a dúvida… essa sim é viva, consciente, profunda.
Talvez seja essa fé que esteja nascendo em você agora — mesmo que silenciosa, mesmo que tremendo.
E tudo bem se ela não se parecer com a fé que você tinha antes.
Fé também muda. Cresce. Se transforma com a gente.
Débora Aquino
Muito bom!
ResponderExcluir