Pular para o conteúdo principal

Angústia como Chamado à autenticidade

Você já se sentiu como se estivesse apenas seguindo o fluxo… sem estar realmente presente em sua própria vida?

Heidegger chamaria isso de viver na inautenticidade — um estado em que deixamos o mundo nos dizer quem somos, o que queremos, e até o que devemos sentir.


Mas há algo que pode romper esse automatismo: a angústia. E não aquela angústia comum, mas um vazio existencial que escancara o fato de que estamos jogados no mundo… e que a vida, um dia, vai acabar.


O “Ser-Aí” e o esquecimento do ser


Heidegger parte da pergunta mais básica — e mais esquecida — da filosofia: o que significa ser?

Segundo ele, o ser humano é um “ser-aí” (Dasein), um ente que existe de forma consciente e se pergunta sobre sua própria existência.

O problema é que vivemos distraídos, absorvidos pelo cotidiano, pela “tagarelice”, pela rotina. Vivemos no que ele chama de inautenticidade: um modo de ser em que nos perdemos no “se” impessoal — “se faz assim”, “se vive assim”.


A angústia como ruptura


É aí que entra a angústia existencial.

Ela rompe com o cotidiano. Tira o chão. Nos coloca frente a frente com o nada — não no sentido de depressão, mas como um chamado para nos perguntarmos:

O que estou fazendo com o tempo que me foi dado?

Essa angústia revela que somos um ser-para-a-morte, e é justamente esse confronto com a finitude que pode nos lançar à autenticidade.


Viver autenticamente: ser em vez de parecer


Para Heidegger, viver autenticamente não é se isolar ou seguir regras fixas, mas assumir a responsabilidade pelo próprio ser. É escolher-se a cada dia, consciente de que o tempo é limitado — e precioso.

É viver não a partir do que os outros esperam, mas do que ressoa no mais íntimo do nosso ser.



Você está vivendo como quem é… ou apenas como quem os outros esperam que você seja?

Heidegger não dá respostas fáceis. Mas talvez, ao se fazer essa pergunta, você já esteja um passo mais perto de si mesmo.


Débora Aquino 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A fé que fez sentido pra mim

Não foi uma crise, foi um processo. Um esvaziamento silencioso da fé que eu conhecia, até que um dia percebi: eu já não acreditava mais naquele Deus. Mas também não conseguia abandoná-lo por completo. Havia algo dentro de mim que ainda buscava. Ainda chamava. Ainda esperava. Cresci em uma família tradicional presbiteriana e, desde cedo, algo dentro de mim percebia uma desconexão entre o evangelho que lia nas Escrituras e a forma como ele era vivido nas igrejas. Mas eu não tinha ferramentas para questionar. Então, fui estudar teologia — acreditando que ali encontraria as respostas que buscava. Encontrei, sim. Mas foram respostas que primeiro me desmontaram. Descobri que existe um lado não mitológico da fé — uma dimensão simbólica e existencial que os teólogos conhecem, mas que raramente é compartilhada com as pessoas comuns. De repente, os mitos e imagens que sustentavam minha crença ruíram. Aquele Deus que me ensinaram a adorar desde a infância já não fazia mais sentido. Mi...

A arte de ser inteiro - Hans Rookmaaker

A arte é uma das formas mais profundas de dizer o que não cabe em palavras. Ela nasce da alma humana — da nossa alegria, angústia, esperança e desespero. Quando alguém pinta, compõe, dança ou escreve, está tentando dar forma ao que sente por dentro. É por isso que toda cultura tem arte: porque ser humano é precisar expressar o invisível. Hans Rookmaaker, historiador da arte e pensador cristão, viu nisso algo sagrado. Para ele, a arte não era um luxo ou uma distração, mas parte da nossa vocação original como criaturas feitas à imagem de um Deus criador. Ele dizia que a arte verdadeira é aquela que nasce do coração humano diante da realidade — seja ela cheia de luz ou marcada por sombras. Rookmaaker também acreditava que o cristianismo, quando mal compreendido, podia mutilar essa expressão. Ele criticava a religiosidade que reduz a fé a regras e doutrinas, ignorando a imaginação, o corpo, a cultura. Para ele, quando a igreja abandona a beleza, ela também começa a abandonar a ...

Receba atualizações por e-mail

Enter your email address:

Delivered by FeedBurner