A maioria de nós foi ensinada a esperar o amor.
A senti-lo, desejá-lo, talvez até merecê-lo.
Mas Kierkegaard nos propõe algo mais exigente — e mais libertador:
amar como decisão.
Amar como ato que não depende da emoção do momento,
mas da escolha silenciosa de permanecer com inteireza.
Em As Obras do Amor, Kierkegaard questiona o amor romântico idealizado.
Ele diz que o amor que apenas “sente” é instável — e, por isso, irresponsável.
O amor verdadeiro, segundo ele, é um dever.
Mas não no sentido moralista da obrigação fria.
É dever porque nasce da liberdade.
Porque só quem escolhe com liberdade pode sustentar o outro na verdade.
Amar não é se fundir.
Não é salvar.
Não é controlar.
É ser com o outro sem se perder de si.
É continuar presente mesmo quando o encantamento se esgota,
quando a imagem ideal do outro se desfaz,
e ainda assim você enxerga alguém ali —
alguém que você escolhe não abandonar.
Amar, então, é um exercício espiritual.
Não no sentido religioso institucional,
mas no sentido profundo de fidelidade à realidade.
Amar de verdade exige liberdade.
Mas também exige responsabilidade.
Porque o amor não é leveza solta —
é peso sagrado.
É você se comprometer com o crescimento do outro,
sem se anular e sem exigir que ele seja como você quer.
Amar é esse paradoxo:
liberdade e entrega.
Coragem e vulnerabilidade.
Limite e presença.
No fim, Kierkegaard afirma:
é quem ama que se transforma.
Porque amar não é só se dar ao outro —
é também se tornar alguém mais verdadeiro,
mais presente,
mais inteiro.
Débora Aquino
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