Muita gente fala de verdade como um valor moral. Mas, na jornada da existência, ser verdadeira não é apenas dizer o que se pensa — é ousar existir com inteireza diante de si, de Deus e do mundo.
Para Kierkegaard, o desespero não é algo que sentimos apenas nos momentos difíceis. É a própria condição de quem tenta escapar de si — seja fugindo do que é, seja tentando ser o que não é. Desesperar-se é não suportar o peso da liberdade de existir, é perder-se ao tentar agradar, se encaixar, se esconder. E o que nos salva não é uma resposta pronta, mas um chamado: torna-te quem tu és.
Tillich diria que esse salto em direção a si exige coragem. Fé, afinal, não é ausência de dúvida — é coragem de afirmar o próprio ser mesmo quando tudo parece instável. É confiar que há sentido mesmo quando não se vê.
Frankl nos lembra que há liberdade mesmo no sofrimento, quando escolhemos responder à vida com inteireza — e não com máscaras.
Ser verdadeira, então, é se reconciliar com tudo o que em você foi negado, silenciado, fragmentado. É parar de atuar papéis para ser amada. É parar de editar a própria presença para caber.
Essa reconciliação não acontece por esforço, mas por rendição. Não é uma façanha — é um retorno. Um “sim” sussurrado à própria existência. Um instante de decisão que Kierkegaard chamaria de o instante da eternidade: quando, pela primeira vez, você se volta para si e diz — “Aqui estou. Sou isso. E daqui posso viver.”
Nesse instante, começa o milagre. Não de ser aceita por todos, mas de finalmente se habitar.
Débora Aquino
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