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A verdade que se vive no agora

A gente costuma pensar na verdade como algo fixo, objetivo, que precisa ser provado. Mas, no existencialismo cristão, a verdade não é uma ideia… é um encontro. Kierkegaard dizia que a verdade mais profunda é aquela que se torna parte de quem somos — uma verdade encarnada, que se vive com todo o corpo, com toda a alma. Não basta saber o que é verdade. É preciso viver de acordo com ela. Paul Tillich também apontava na mesma direção. No livro The Eternal Now, ele afirma que a verdade não está no passado, nem num ideal futuro. Ela se revela no agora eterno — esse instante em que o tempo toca a eternidade. É aqui, no presente, que a fé acontece. É aqui que a vida se transforma. A verdade não é só aquilo que se diz com palavras. É aquilo que se torna ação. Presença. Coragem. Viver com verdade é parar de fugir da realidade — e começar a responder ao que ela exige de nós. E isso só pode ser feito no agora. No instante em que você se permite ser quem é, sentir o que sente, e...

Transformar-se é voltar para si

Nem toda transformação parece grandiosa do lado de fora. Às vezes, ela é sutil — silenciosa até. Mas por dentro, algo se reorganiza. E a gente começa a se reconhecer de novo. Transformar-se não é abandonar quem se foi, mas acolher quem se é, com mais honestidade. Muitas vezes, o que chamamos de crise é, na verdade, um chamado: um convite para voltar à essência, para parar de fingir, de agradar, de correr atrás de uma versão de nós mesmos que não existe. Esse tipo de transformação não nasce de regras. Nasce do atrito entre o que vivemos e o que somos. Entre o que esperam de nós… e o que precisamos ser. É por isso que transformar-se dói. Porque exige escuta. Exige presença. Exige desapego das velhas respostas. Mas quando acontece — mesmo aos poucos — a gente começa a andar mais leve. Mais inteiro. Mais verdadeiro. E talvez seja isso: Transformar-se não é se tornar outra pessoa. É, enfim, voltar pra casa. Débora Aquino 

A vida começa quando encontramos sentido

Nem sempre é fácil saber o que a gente quer da vida. Às vezes, estamos tão ocupados tentando sobreviver, agradar, corresponder… que esquecemos de perguntar: "Por que estou aqui? O que faz essa vida valer a pena?" Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e sobrevivente de campos de concentração nazistas, acreditava que a principal força que move um ser humano não é a busca por prazer ou sucesso — é a busca por sentido. Ele viu isso nos lugares mais sombrios: quando tudo parecia perdido, o que fazia alguém continuar respirando era o vínculo com um “porquê”. Uma causa. Uma responsabilidade. Um amor. Uma escolha interior. Frankl dizia: “Quem tem um ‘porquê’ enfrenta quase qualquer ‘como’.” E essa frase, tão simples, pode ser uma virada na nossa forma de viver. Transformar-se, nesse caminho, não é se tornar alguém perfeito. É começar a viver com propósito. É perceber que mesmo o sofrimento — quando é atravessado com consciência — pode nos levar a uma existência mais autênti...

A fé que fez sentido pra mim

Não foi uma crise, foi um processo. Um esvaziamento silencioso da fé que eu conhecia, até que um dia percebi: eu já não acreditava mais naquele Deus. Mas também não conseguia abandoná-lo por completo. Havia algo dentro de mim que ainda buscava. Ainda chamava. Ainda esperava. Cresci em uma família tradicional presbiteriana e, desde cedo, algo dentro de mim percebia uma desconexão entre o evangelho que lia nas Escrituras e a forma como ele era vivido nas igrejas. Mas eu não tinha ferramentas para questionar. Então, fui estudar teologia — acreditando que ali encontraria as respostas que buscava. Encontrei, sim. Mas foram respostas que primeiro me desmontaram. Descobri que existe um lado não mitológico da fé — uma dimensão simbólica e existencial que os teólogos conhecem, mas que raramente é compartilhada com as pessoas comuns. De repente, os mitos e imagens que sustentavam minha crença ruíram. Aquele Deus que me ensinaram a adorar desde a infância já não fazia mais sentido. Mi...

A Dúvida Como Parte da Fé: Um Olhar com Tillich e Kierkegaard

A dúvida nem sempre chega como um vendaval. Às vezes, ela vem como uma brisa incômoda. Um silêncio estranho. Um vazio que vai crescendo por dentro até a fé antiga não caber mais. Durante muito tempo, achei que fé e dúvida eram opostos. Que se eu estivesse duvidando, era porque minha fé estava fraca. Mas com o tempo — e com a ajuda de alguns pensadores corajosos — fui entendendo que a dúvida não destrói a fé. Ela a purifica. Paul Tillich dizia que a dúvida não é o oposto da fé, mas um elemento da própria fé. E isso muda tudo. Porque, ao invés de fugir da dúvida, somos convidados a atravessá-la. A confiar não apesar dela, mas junto com ela. Fé, nesse sentido, não é adesão a doutrinas prontas. Não é crença cega. É coragem. Coragem de continuar buscando, mesmo quando as respostas desaparecem. Coragem de permanecer em pé, mesmo quando o chão das certezas afunda. Kierkegaard, outro pensador que marcou minha caminhada, falava do “salto da fé” — um salto sem garantias. Ele ...

Angústia como Chamado à autenticidade

Você já se sentiu como se estivesse apenas seguindo o fluxo… sem estar realmente presente em sua própria vida? Heidegger chamaria isso de viver na inautenticidade — um estado em que deixamos o mundo nos dizer quem somos, o que queremos, e até o que devemos sentir. Mas há algo que pode romper esse automatismo: a angústia. E não aquela angústia comum, mas um vazio existencial que escancara o fato de que estamos jogados no mundo… e que a vida, um dia, vai acabar. O “Ser-Aí” e o esquecimento do ser Heidegger parte da pergunta mais básica — e mais esquecida — da filosofia: o que significa ser? Segundo ele, o ser humano é um “ser-aí” (Dasein), um ente que existe de forma consciente e se pergunta sobre sua própria existência. O problema é que vivemos distraídos, absorvidos pelo cotidiano, pela “tagarelice”, pela rotina. Vivemos no que ele chama de inautenticidade: um modo de ser em que nos perdemos no “se” impessoal — “se faz assim”, “se vive assim”. A angústia como ruptura É aí q...

Estética, Ética e Fé: Três estágios da existência segundo Kierkegaard

Você está vivendo ou apenas passando pelos dias? Talvez você nunca tenha se feito essa pergunta — ou talvez ela tenha te atravessado em algum momento de silêncio profundo, quando nada parecia fazer sentido. Kierkegaard, o pai do existencialismo cristão, nos oferece uma espécie de mapa para essa jornada interior: os três estágios da vida — o estético, o ético e o religioso. Mas atenção: esse não é um manual de autoajuda. É um convite perigoso à verdade sobre si mesmo. O Estágio Estético: a busca pelo prazer e a fuga do tédio No primeiro estágio, a vida é uma obra de arte. O indivíduo busca experiências intensas, beleza, prazer e evita, a todo custo, o tédio. Aqui, o maior inimigo é o vazio — e o maior medo é o comprometimento. Kierkegaard não condena esse estágio como um erro, mas como uma etapa inevitável. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, a estética cansa. A vida se mostra repetitiva, sem propósito duradouro, e surge um mal-estar difícil de ignorar: a angú...

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