Por que aprendemos coisas?


Você já ouviu alguém dizer: " Vou fazer um curso de fotografia, porque se algum dia eu tiver uma câmera profissional, já saberei usa-la..." ou : " Vou aprender todos os nomes dos rios do Brasil, se um dia passar por um deles, saberei qual é..."?

Parece absurdo vendo por este ponto de vista e o motivo é claro: Aprendemos sob demanda, ou seja, aprendemos o que é necessário para resolver problemas reais.

As crianças nascem prontas para aprender e trazem consigo uma curiosidade que não pode ser simplesmente desligada aos 6 ou 7 anos de idade quando as obrigamos a aprender coisas que não tem sentido real para elas.

Veja bem, não quero dizer que não é importante aprender português ou matemática, apenas que o aprendizado precisa ser significativo.

Me parece que o aprendizado escolar atende estas necessidades apenas até o período de alfabetização, o que é um período muito curto.

Vou explicar: Uma criança aprendendo a ler e escrever vê muito sentido no que está aprendendo, ela quer ler as letras do mundo, quer decifrar os códigos dos livros, ler histórias, escrever histórias, se comunicar por escrito. Por isso são tão engajadas neste período escolar.

Acontece que o próximo passo é desconectado. Aprender regras gramaticais, nomenclaturas,  fazer provas pra mostrar que realmente sabem algo que elas mesmas não compreendem pra quê.

Penso que a escola precisa ser um espaço de descoberta, crescimento e incentivo à curiosidade.

Por que não aprender matemática resolvendo problemas reais da escola, como as contas dos materiais adquiridos, dos produtos de limpeza, dos livros...

Já é mais do que certo que aprendemos mesmo é fazendo, em contato com a situação real, mas teimamos em excluir os estudantes dos problemas reais da própria escola e comunidade.

São inúmeras situações do dia a dia que poderiam promover o crescimento e aprendizado. É redigir o texto de um site da escola, promover campanhas diversas, discutir soluções para situações pontuais, organizar um passeio...

A escola precisa ser um retrato da vida real, um espaço onde com ajuda e mentoria todos possam desenvolver habilidades tão necessárias fora dela.

Insistimos em achar que o aprendizado só acontece quando engessado e cronometrado. É um engano. O aprendizado é livre e orgânico. Na vida aprendemos o tempo todo, basta uma situação nova pra resolver e já estamos aprendendo.

A vontade de aprender não desaparece por si só, nós é que as desligamos por meio de nosso coercitivo sistema de educação compulsória. A maior e mais duradoura lição trazida pelo nosso sistema escolar é que aprender é algo maçante, que deve ser evitado ao máximo possível.

Dar voz às crianças sempre que possível pode ser um ótimo caminho. Inclui-las na solução de problemas, escolhas, ideias, projetos e soluções. É assim que crescemos e aprendemos.

Uma mãe que não deixa o filho arrumar a própria mala está o privando de um aprendizado amplo e significativo. Uma escola que não expõe o aluno ao contexto do que está estudando está no mesmo caminho. Fica vazio e desmotivador.

É preciso acreditar na natureza curiosa das crianças, não bloquear o potencial.

Sabe quando você vê crianças que vivem na rua e fica impressionado com a esperteza e até mesmo inteligência ? Ainda que não sejam conhecimentos "escolares" são aprendizados que impressionam. Aí comparamos com aquelas que recebem tudo nas mãos e vemos o quanto estão pra trás em algumas habilidades.

Queremos, é claro todas as crianças na escola bem cuidadas e protegidas, porém não privadas do seu potencial de aprendizagem. Essas crianças das quais falei, provam o quanto são capazes de aprender coisas difíceis e reais. Provam que se oferecermos um ambiente de aprendizado e significado, elas vão longe e nos surpreendem.

Estamos caminhando cada vez mais rumo a uma mudança radical no sistema escolar. É pegar bons exemplos de pessoas que estão fazendo diferente, aprender com eles, ter ideias novas e fazer alguma coisa.

Quando você vê algo que está dando muito errado, você tem duas opções: fazer alguma coisa ou não fazer nada.

Eu escolho fazer o que puder, criar estratégias diferentes, abordagens diferentes, estudar por conta própria pra encontrar outras possibilidades, buscar inspiração em bons exemplos, mas nunca compactuar ou participar de um sistema violento e injusto. Eu não poderia dormir em paz.



Débora Aquino - Educação Criativa