Daniel
Golemam afirma que a Inteligência Emocional é a responsável pela maior parte do
sucesso pessoal e profissional e é aprendida na vida. As emoções têm a função de "mover"
o sujeito. São a base para tomada de decisões, pois o cérebro emocional faz um resumo
das sensações para posteriormente haver o raciocínio. Sendo tão fundamental na
vida, fica a reflexão: Por que não faz parte do cotidiano de todos?
Atualmente
muito temos visto nas redes sociais sobre educar as emoções das crianças.
Filmes como DivertidaMente estão ganhando muito espaço nas telinhas e corações.
Os educadores, pais e pessoas em geral têm percebido a importância desse
trabalho. E isso é muito bom. No entanto ainda esse movimento está no início e
é pequeno.
Os cursos
de formação de educadores não têm em sua grade curricular disciplinas
específicas de Inteligência Emocional. Dessa forma, o futuro professor não se
habilita para trabalhar com propriedade a educação emocional de seus educandos.
Assim, como eles se prepararão para atuarem com essa especificidade? O que
acontece é que muitos não o farão. E dependendo muito, farão se a escola em que
atuarem seguir esse trabalho. O que encontramos são cursos e pós-graduações que
abordam esse tema, além de livros e artigos. Ou seja, apenas aqueles que se
interessarem pelo tema terão um conhecimento.
Entretanto,
alguns educadores trazem consigo a naturalidade desse tipo de trabalho, pois
além de perceberem a real importância, acima de tudo, trabalham a emoção de si
mesmos. Pois, para desenvolver a inteligência emocional nas crianças, é preciso
que o educador trabalhe em si as seus sentimentos. Nada mais educativo do que o
próprio exemplo.
Bem, esse
foi o meu caso. Eu não tive uma disciplina no meu curso de pedagogia que me
instruísse sobre a inteligência emocional. Mas esse é um tipo de área que muito
me interessa, sendo assim, por mim mesma busquei conhecimentos e práticas
sobre. E vou realizar um breve relato de experiência de uma turma de educação
infantil. A título de ilustração, usarei nomes fictícios.
Minha
primeira turma foi de crianças de 5 anos de idade. O perfil da sala era de
crianças felizes e agitadas (em sua maioria). Percebi a necessidade de cuidar
não só do corpo das crianças, mas também de suas mentes e corações. O objetivo
central foi das crianças aprendem a reconhecer, nomear e refletir sobre o que
estavam sentindo durante o dia. Então, no início das aulas, em nossas rodas de
interação, conversávamos sobre como estávamos nos sentindo naquele dia. Com o
tempo, as crianças já chegavam na sala de aula dizendo espontâneamente como
estavam se sentindo. Todas as vezes em que ocorria alguma situação, íamos para
o Cantinho das Emoções conversar sobre. Com o tempo, as crianças aprenderam a
argumentar e refletir sobre o que havia acontecido e a resolver seus próprios
conflitos sozinhas.
Quando o choro é
frequente, algo não está muito bem.
Marcel era
uma criança que chorava por tudo: um amigo olhava mais firmemente e buáaa....
lá estava eu... conversando, orientando, escutando. Ele era extremamente
sensível e o seu choro era mais um hábito. Percebendo isso, incansavelmente, a
cada choro eu sentava com ele e realizava o processo de trabalhar a sua emoção.
Até que, ao final do ano, quase eu não via mais aqueles choros, mas via uma
criança ativa, que a cada situação ele resolvia com seus amigos de uma forma
tranquila. Chorar é natural e importante, no entanto, é preciso atentar para
aquela criança que chora por quase todos os motivos. Se isso acontece, ela está
precisando de sua concentração enquanto educador emocional.
Ela é muito tímida!
Será que é só isso?
Bárbara era
aparentemente o que estereotipamos "tímida". Ela não demonstrava seus pensamentos e
sentimentos verbalmente. Todas as vezes que algo lhe acontecia e que a
chateava, ela abaixava a cabeça e chorava, quietinha, para que eu não
percebesse. Sentir raiva é natural, mas ela parecia ter interiorizado que
sentir raiva era errado. Dessa forma, ela sentia, mas não resolvia os seus
conflitos, guardando apenas dentro dela. Imaginem como ela deveria estar por
dentro? Uma criança tão inteligente, que precisava de uma atenção específica de
minha parte. Com muito diálogo e com o tempo, ela compreendeu que poderia se
expressar. Ao final do ano, ela não só se expressava verbalmente, como não mais
chorava e guardava para si, mas conversava, argumentava e se entendia com os
amigos. Saiu uma criança muito mais feliz. Com esse trabalho percebemos que ela
não era tímida, ela tinha reais dificuldades de se comunicar e expressar.
Cuidado com a aparente timidez, que pode camuflar necessidades a serem
trabalhadas nas crianças.
Essa criança é
muito mimada!
Quem nunca
pensou isso de alguma criança, observando suas atitudes. Mas julgar resolve
alguma situação? A Joana tinha muito medo (pessoas vestidas de personagens de
desenhos animados, subir em árvores e brinquedos, do que as outras pensavam e
falavam dela). Se acontecesse alguma situação
(engraçada até, como por exemplo, ela contou um caso engraçado) e alguém
risse dela, era motivo de acabar o dia, ela chorava e se chateava. Se perdesse
em uma brincadeira, era motivo muita tristeza. Aparentemente sim, poderíamos
pensar que ela era mimada. Mas pensar assim não a faria mudar por si mesma. A
criança não tem o pensamento de se criticar para se melhorar. Isso deve ser
direcionado pelos adultos. Após muitas conversas, histórias, abraços,
reflexões, firmezas com muitas de suas atitudes, ao final do ano ela era a mais
livre emocionalmente da sala. Ria de si mesma, se divertia e compreendia seus
erros. Encontrou a coragem dentro de si e me chamava para ver suas conquistas
diárias, como subir sozinha no brinquedo do parque. Adquiriu uma capacidade de
argumentar e resolver seus próprios conflitos de forma impressionante. Não mais
corria para o cantinho da sala para chorar, mas imediatamente conversava para
resolver a situação e ficar bem.
Temos uma bomba
relógio na sala...
Abel todos os dias chegava de
mau humor na sala de aula, com uma expressão de um adulto cansado da vida. Em
toda situação que lhe ocorresse gritava: "ai que ódio"! Forte isso,
não? Eu percebia ali um coração pedindo socorro. Não se encantava com os
encantos mágicos da infância e a tudo argumentava que “tecnicamente a
professora estava inventando”. A melhor parte é que Abel tinha uma habilidade
de liderança enorme. Pensemos: como seria uma turma com um líder que sentia
"ódio" de praticamente tudo? Claramente, ele trazia algo de sua vida
particular que mobilizasse aquelas atitudes. Porém, era preciso que eu fizesse
algo. Depois de muita conversa, elucidações, explicações científicas do que a
raiva causava em seu corpo, ao final do ano, não escutei nenhuma vez a
expressão "ai que ódio". E ele chegava falante e feliz na sala, muito
mais calmo e afetuoso. Isso foi mágica? Não, isso foi trabalho cotidiano de suas
emoções.
Jorge ao
primeiro dia de aula nem sequer olhou em meus olhos. Muito disperso, agitava a
sala e não correspondia aos comandos. Eu percebia que ele agia de conformidade
contrária ao estabelecido: se eu dissesse "vamos fazer a roda", ele
pegava um brinquedo e corria pela sala; ou "vamos fazer a apostila",
ele escrevia na página a palavra "não". Muitas páginas de sua
apostila tinham o "não" escrito por ele. Bem, pelo menos uma palavra
ele escrevia com muita propriedade e eu valorizava isso. Muitas vezes eu
tentava me aproximar, e recebia em troca um comportamento inadequado (caretas,
chutes, tentativas de fugir da sala...). Essa foi, no âmbito do trabalho com as
emoções, o meu maior desafio. O que fazer com ele, se nem me respondia nada
quando sentávamos para conversar? A maioria das minhas tentativas eram
frustradas. Eu não via resultado algum. O que eu deveria fazer, então? Depois
de muitas respiradas fundas, conversas, valorização de suas qualidades e
potenciais, outros métodos de aproximação, ao final do ano ele me deu um abraço
e disse que gostava muito de mim. Não, isso não é carência docente, isso é
conquista profissional. Pois ao me despedir dele no último dia de aula, eu vi
que despedia de uma outra criança, muito mais feliz, consciente de que suas
atitudes tinham consequências. E sendo assim ele começou a ter mais atitudes
positivas, pois após reconhecer suas
qualidades, desenvolveu o interesse de manter vivas essas percepções.
Sinceramente,
tudo ao final do ano pareceu mágico! Todas as crianças, sem exceção, tiveram
avanços emocionais significativos com esse trabalho.
Percebem? O
trabalho com as emoções que eu fiz com essa turma foi muito simples. Eu
disponibilizei de poucos recursos. O maior que eu usei foi a mim mesma. A minha
capacidade de escutar, de esperar, de ter paciência, de compreender o tempo de
cada criança, de ter a sensibilidade de entender o que não era dito em
palavras, de disponibilizar a minha boa vontade. E os resultados? Se eu os
esperava? Bem, eu tinha aquela esperança de que eu pudesse ver um pouquinho de
diferença nas crianças. Mas eu me surpreendi com elas. Crianças de apenas cinco
anos, habilidosas a resolverem seus próprios conflitos, refletindo sobre os
seus atos, valorizando os amigos, ajudando-os quando estavam tristes ou com
medo... crianças autônomas emocionalmente. E eu fico imaginando, "se a
próxima professora desse continuidade a esse trabalho... como que essas
crianças poderiam se desenvolver muito mais"!
Acreditem,
não há trabalho melhor de um educador do que ver que promoveu o desenvolvimento
de habilidades em seus educandos. E a habilidade de se conhecer e se melhorar é
imprescindível. Pensem, como seriam os adultos do futuro, se enquanto agora
crianças, tiverem o desenvolvimento da inteligência emocional? Com certeza,
seria um mundo bem diferente desse em que estamos contextualizados.
Reforço que
o trabalho é mais simples do que imaginamos. É sim, um trabalho demorado, que
requer tempo e persistência. Mas não por isso deixa de ser complexo, pois
primeiro o educador deve se educar. Contudo com certeza, se você o fizer irá se
apaixonar!
Kahena Viana é pedagoga e atualmente mora em Belo Horizonte. É contadora de histórias, trabalha com educação infantil e realiza oficinas sensoriais para bebês.
Acompanhe um pouco mais do seu trabalho no instagram @kahena_viana_pedagoga
Agradeço pela publicação. Vou ler com calma e praticar as propostas, depois mando uma mensagem para vcs.
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